A Infecção do Trato Urinário (ITU), mais conhecida como infecção urinária, é uma das infecções mais comuns – afeta em torno de 150 milhões de pessoas por ano, no mundo.
Pacientes do sexo feminino têm mais propensão a desenvolver o quadro (50% das mulheres terão, ao menos, 1 ITU ao longo da vida) e 20% terão infecção de repetição.
Mas por que isso? A mulher possui a uretra mais curta, facilitando a bactéria a chegar mais rápido da vagina à bexiga, assim como a colonização perineal por bactérias do trato gastrointestinal.
As bactérias mais comuns associadas à infecção do trato urinário são em ordem de frequência: a Escherichia coli, Klebsiella e o Enterococcus faecalis., o Staphylococcus saprophyticus e espécies de Proteus.
A E. coli, sozinha, responsabiliza-se por 70% a 85% das infecções do trato urinário adquiridas na comunidade.
Outros organismos que podem causar o quadro além de bactérias, é o caso da cândida (infecção vaginal por fungos) e a mycobacterium tuberculosis responsável pela tuberculose.
As Infecções podem acontecer em todo o trato urinário e são chamadas de:
– INFECÇÃO URINÁRIA BAIXA (CISTITE), quando abrange bexiga e uretra;
– INFECÇÃO URINÁRIA ALTA (URETERITE/ PIELONEFRITE), quando acomete ureter e rins (o sistema urinário acima da bexiga).
As infecções também podem ser divididas de acordo com o seu NÍVEL DE GRAVIDADE:
NÃO COMPLICADA: pode ser baixa ou alta, o paciente não apresenta sinais de gravidade nem condições que possam aumentar o risco de falha no tratamento, e são normalmente, tratados apenas com antibioticoterapia oral;
COMPLICADA: pode ser baixa ou alta, os pacientes apresentam sinais de gravidade ou condições que aumentem o risco de falha no tratamento e muitas vezes necessitam de antibioticoterapia venosa, ou ainda, tratamento cirúrgico de urgência.
As condições que favorecem a ITU COMPLICADA, são:
– Imunossupressão (ex: gestação; diabetes descontrolada; doenças e uso de medicações que abaixam a imunidade; pós transplantes renais)
– Infecção por germes hospitalares multirresistentes (surge após 48h da internação ou até 48h após alta);
– Doença renal crônica;
– Suspeita de obstrução do trato urinário (ex: cálculos renais e ureterais);
– Anatomia anormal do trato urinário (ex: rim único, rim em ferradura etc.);
Os sintomas da infecção variam conforme o local de instalação da bactéria. Por exemplo, na INFECÇÃO URINÁRIA BAIXA, o paciente pode sofrer com urgência (desejo iminente) e frequente de urinar (polaciúria), bem como dor no canal urinário (estranguria), urina com odor e coloração alteradas, entre outros…
Na INFECÇÃO URINÁRIA ALTA, pode haver febre, vômitos, náuseas e dores nas costas (região do rim infectado).
Os sintomas gerais são:
– Dor ou ardor no canal da urina ao urinar;
– Urinar várias vezes, porém em pouca quantidade (polaciúria);
– Urgência miccional;
– Incontinência urinária;
– Sensação de peso em região supra púbica;
– Levantar-se várias vezes à noite para urinar (noctúria);
– Presença de sangue na urina (hematúria);
– Urina leitosa com odor fétido;
– Dor lombar, pélvica ou abdominal;
– febre e calafrios;
– Náuseas ou vômitos;
Os casos graves, podem gerar sepse que é uma infecção generalizada e é mais comum ocorrer nas infecções complicadas.
Em geral, o diagnóstico é realizado pelos sintomas clínicos. Mas nos casos de infecção de repetição e nos casos suspeitos de infecção urinária alta e/ou complicada, devemos realizar exames laboratoriais com sangue e urina, sendo a cultura muito importante, pois ela identifica a bactéria especifica da infecção e a sensibilidade dessa bactéria aos antibióticos orais e venosos. Para complementar a investigação e dependendo do quadro, há indicação de exames de imagem para identificar fatores complicadores como causas à obstrução do trato urinário como cálculos, avaliar como o ri8m está, se existe alguma coleção ao redor do rim e principalmente ser há a necessidade de uma cirurgia de urgência.
É muito comum as mulheres terem infecções de repetição que consiste no quadro de infecção urinária que ocorre 2 vezes em 6 meses ou 3 vezes, no período de 1 ano.
Nesses casos precisamos avaliar os fatores predisponentes que favorecem que essa mulher tenha esses episódios de forma recorrente.
O tratamento pode ser realizado através de variada gama de antibióticos, cuja escolha se baseia em critérios, como:
– Maior probabilidade da inibição do crescimento bacteriano;
– Menor incidência de efeitos colaterais;
– Elevada concentração urinária;
– Quadro clínico do paciente.
A duração varia, sendo de 3 a 10 dias para as infecções não complicadas, com o desaparecimento dos sintomas entre o 1º e 5º dia, depois de iniciado o tratamento. Para infecções altas e complicadas, são 2 semanas, no mínimo e novos exames podem ser solicitados para acompanhamento da resolução do quadro infeccioso.
Nos casos de infecção de repetição fora a mudança dos fatores de risco e comportamentais, algumas vezes precisamos entrar com uma profilaxia antibiótica e/ou vacinas orais quando a bactéria causadora é a E.coli.
Cada paciente deve ser avaliada com cautela e meticulosamente para tentar entender e adequar a melhor linha de tratamento.
Muito melhor do que tratar é prevenir!
Cuidados importantes no dia a dia:
– Beber água adequadamente, de acordo com seu peso e rotina. Em geral, faço o cálculo de quanto deve se beber de líquido por dia multiplicando o peso da paciente por 20 a 30ml. Ou seja, uma pessoa de 80 kg deve tomar entre 2 a 3 litros de líquido por dia (aproximadamente 14 copos), dando preferência para água e sucos naturais da fruta.;
Obs.: Idosos, gestantes e crianças podem ter outra indicação relacionada ao volume de ingesta hídrica, neste caso, sempre observar as orientações de seu médico assistente.
– Realizar diureses frequentes e programadas a cada 2 a 3h – ou seja, não ficar muito tempo sem fazer xixi. (Lembre-se ainda de sempre ir ao banheiro, antes de dormir);
– Urinar após relação sexual e SEMPRE usar preservativos para relações @nais e nunca realiza nova penetração vaginal após mesmo com a troca ou retirada do preservativo;
– Abolir o uso de perfumes ou químicas vaginais;
– Não lavar o canal vaginal, apenas a vulva e dar preferência para sabonetes neutros;
– Evitar usar calças muito apertadas, calcinhas sintéticas e calcinhas fio dental;
– Evitar ficar com roupa de banho molhada muito tempo;
– Evitar alimentos ultra processados e com alto índice glicêmicos pois eles favorecem ao processo inflamatório e infecções;
– Emagrecer (pacientes com IMC – índice de massa corporal >30 possuem maior risco de ITUs e infecção urinária alta).
– Uso de probióticos, cranberry, D-mannose, reposição hormonal tópica, laser vaginal, vacinas específicas.
Em caso de suspeita, procure uma urologista. Não se automedique.
Ficou alguma dúvida? Estou aqui para ajudar!